O que é autismo?
Autismo é uma disfunção global do
desenvolvimento, crônica, incapacitante que compromete o
desenvolvimento normal de uma criança e se manifesta tipicamente antes
do terceiro ano de vida. Caracteriza-se por lesar e diminuir o ritmo do
desenvolvimento psiconeurológico, social e lingüístico. Estas crianças
também apresentam reações anormais a sensações diversas como ouvir, ver,
tocar, sentir, equilibrar e degustar. A linguagem é atrasada ou não se
manifesta. Relacionam-se com pessoas, objetos ou eventos de uma maneira
não usual, tudo levando a crer que haja um comprometimento orgânico do
Sistema Nervoso Central.
2 - É uma doença de fundo orgânico ou emocional?
Antigamente,
supunha-se uma causa orgânica, mas com o avanço da literatura
psicanalítica surgiu a hipótese de que os pais seriam, de certa maneira,
os causadores desta problemática. Atualmente, esta teoria caiu
totalmente em desuso devido à enorme gama de estudos científicos,
documentando um comprometimento orgânico neurológico central. O
tratamento está, obviamente, centrado nestas novas descobertas, conforme
os artigos incluídos neste livro.
Esta
mudança nos conceitos obriga a uma reformulação teórica, difícil de ser
aceita por certos grupos que até então detinham o controle e o poder de
tratamento destas crianças e que se vêem ameaçados com estas novas
descobertas. É importante que os pais tenham conhecimentos atualizados
para poderem questionar ou escolher o tratamento adequado para seus
filhos.
3 - E os pais têm culpa?
Antigamente,
a literatura psicanalítica formulava a hipótese de que os pais eram
"esquizofrenogênicos" ou do tipo "frio" e causadores da problemática de
seus filhos. Hoje em dia, este conceito não é aceito, documentando-se
nestas crianças, conforme já foi mencionado, um comprometimento
orgânico-neurológico central. É claro que nenhum pai quer por vontade
própria ter um filho doente ou lesado. É claro, também, que existem
situações onde os pais interferem na evolução adequada dos filhos, mas
isto não ocorre no Autismo e o diagnóstico diferencial é bastante fácil.
4 - Por que o atraso do desenvolvimento?
Não
se sabe exatamente todas as causas que levam ao Autismo,
conseqüentemente não se consegue explicar corretamente o porquê do
atraso do desenvolvimento. Sabe-se, porém, que ele é devido a um
comprometimento neurológico central, com alterações no funcionamento de
enzimas que levam as células cerebrais a não funcionarem adequadamente,
acarretando, quando comprometidas, problemas diversos. Muitas pesquisas
têm sido feitas nesta área e descobertas importantes estão vindo à tona,
para exatamente melhorar e acelerar este atraso de desenvolvimento.
5 - As crianças com autismo têm atraso mental?
Infelizmente,
cerca de 70 a 80% apresentam uma defasagem intelectual importante.
Cerca de 60% têm inteligência abaixo de 50 em testagens de QI, 20%
apresentam um QI entre 50-70 e apenas 20% têm um QI acima de 70. A
maioria mostra uma variação muito grande com relação ao que
objetivamente podem fazer e oscilam muito de época para época. Não se
sabe explicar exatamente o porquê da associação entre Autismo e
deficiência mental, mas parece que o retardo mental está relacionado ao
mesmo problema básico que gerou o Autismo. Por outro lado, por não
conseguirem interagir adequadamente com o meio ambiente, aumentam ainda
mais a sua defasagem intelectual.
6 - Qual a incidência desta doença?
Ela
é baixa, acontecendo em cinco entre dez mil crianças e é quatro vezes
mais comum em meninos do que em meninas. Ela pode ocorrer em toda e
qualquer família, independente de seu grupo racial, étnico,
sócio-econômico ou cultural.
7 - Como é a abordagem escolar?
Com
o advento de técnicas especiais de educação para o deficiente mental,
ocorreram mudanças dramáticas na capacidade de aprendizado de crianças
em geral e, em particular, das crianças com deficiência mental. O
enfoque atual é fazer com que estas crianças aprendam conceitos básicos
para que funcionem o melhor possível dentro da sociedade. As escolas
especializadas, atualmente, individualizam o tratamento para cada
criança, tornando assim o aprendizado bem mais específico e eficiente.
8 - Os autistas precisam de psicoterapia ou psicanálise?
De
psicanálise não, uma vez que esta técnica visa a explorar o
inconsciente e as motivações que aí ocorrem. Devido ao grau de lesão que
apresentam, elas não se beneficiam desta abordagem, não dispondo de
capacidade cognitiva para tal. Técnicas psicoterapêuticas, especialmente
desenvolvidas para o deficiente mental, têm sido muito úteis para as
crianças que apresentam problemas emocionais diversos. Esta abordagem
visa a uma reeducação, facilitando o contato interpessoal e ajudando-as a
aceitar melhor a problemática que têm, o que as levará a funcionar mais
adequadamente dentro da mesma. É importante, porém, deixar bem claro
que estas técnicas só funcionam quando o profissional tem treinamento
específico nas mesmas e se sente motivado a ajudar. Além disto, o
funcionamento intelectual cognitivo específico destas crianças tem que
ser levado em consideração para se dimensionar adequadamente a terapia.
9 - Existe tratamento?
Sim,
e este vem evoluindo a cada ano que passa, não só na área escolar como
também médica. Em linhas gerais, a abordagem destas crianças é
semelhante à do deficiente mental grave, usando-se técnicas
comportamentais visando a induzir uma normalização de seu
desenvolvimento e lhes ensinando noções básicas de funcionamento, tais
como vestir, comer, higiene etc. São utilizadas, também, técnicas
especiais de educação detalhadas em grande profundidade neste livro. O
uso de medicamentos, tentando normalizar processos básicos
comprometidos, está sendo investigado, como é o caso da fenfluramine. O
uso de medicação sintomática, para tentar controlar melhor o
comportamento destas crianças, tornando-as mais fáceis de tratar com
técnicas escolares e comportamentais, está muito desenvolvido. O
resultado final é muito mais favorável, atualmente, do que há algum
tempo atrás.
10 - E os pais precisam de psicoterapia, psicanálise ou orientação?
Os
pais que têm filhos com problemas sofrem. Isto é inevitável e sem
exceção. E sofrem tanto mais quanto maior for a problemática do filho, a
dificuldade de tratamento, a cronicidad Fonte: Gauderer, E. Christian.
Autismo e outros atrasos do desenvolvimento: guia prático para pais e
profissionais. Rio de Janeiro: Revinter; 1997. pg
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