ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA MENTAL
MÓDULO V - ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA MENTAL
Professora Pesquisadora: Eliana da Costa Pereira de Menezes
Pesquisadora Colaboradora: Renata Corcini Carvalho
Conteúdo Revisado pela Professora Maria Alcione Munhoz
Carga Horária: 25 Horas
OBJETIVOS
Professora Pesquisadora: Eliana da Costa Pereira de Menezes
Pesquisadora Colaboradora: Renata Corcini Carvalho
Conteúdo Revisado pela Professora Maria Alcione Munhoz
Carga Horária: 25 Horas
OBJETIVOS
- Criar meios para que os professores em formação sejam capazes de identificar as potencialidades de aprendizagem que possuem os alunos com deficiência mental.
- Proporcionar situações de conhecimento teórico-prático, a fim de que os professores em formação sejam capazes de planejar atividades e produzir materiais para o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores dos alunos com deficiência mental.
PROGRAMA
UNIDADE A- Conhecendo o aluno com deficiência mental
- Quem é o aluno com DM
- Reflexões sobre a aprendizagem do aluno com deficiência mental e o Atendimento Educacional Especializado - AEE
UNIDADE B – Os processos mentais dos alunos com deficiência mental
- Fundamentos teóricos sobre o desenvolvimento do pensamento nos alunos com deficiência mental
- O desenvolvimento dos processos mentais dos alunos com deficiência mental
UNIDADE C – A escola como um espaço de respeito a diferença
- Inclusão/exclusão dos alunos com deficiência na escola regular
- Funções do professor da sala de recursos no contexto escolar
UNIDADE D – Indicadores de uma ação pedagógica para alunos com deficiência mental
- Planejamento
- Aprendizagem Significativa
- A utilização do computador como ferramenta na aprendizagem do aluno com deficiência mental
UNIDADE A- Conhecendo o aluno com deficiência mental
Introdução:
A discussão acerca da necessidade de uma reflexão sobre
quem é o aluno com deficiência mental se faz imprescindível como um
primeiro pressuposto para seqüência daquilo que vai ser estudado nesta
disciplina. É essencial que o professor que vai trabalhar com esses
alunos possa objetivamente propor ações facilitadoras da sua
aprendizagem e desenvolvimento. Neste sentido, o conteúdo proposto para
essa unidade objetiva uma breve discussão sobre um olhar pedagógico para
esse aluno. A principal intenção é pensar na concepção de deficiência
mental que não se limite no olhar clínico, que impõe uma condição
impeditiva de aprendizagem e desenvolvimento e, mais que reforça a idéia
de que a dificuldade principal do „não aprender‟ é uma responsabilidade
daquele que se encontra na condição de deficiente. Desconsidera outros
fatores intervenientes no processo de aprendizagem e desenvolvimento
como, por exemplo, relações familiares, sociais e escolares ou fatores
sociais, econômicos e culturais. Acreditamos que os subsídios
apresentados poderão se constituir em indicadores para a compreensão de
que as pessoas com deficiência mental possuem um desenvolvimento que
segue as mesmas leis, o mesmo processo das demais pessoas, porém com
certas peculiaridades. São essas peculiaridades que o professor deve
conhecer para poder eficientemente interagir, propondo atividades
facilitadoras da aprendizagem e desenvolvimento, atuando assim, como um
mediador no processo de aprendizagem dos alunos com deficiência.
Palavras-chave: deficiência mental, aprendizagem, desenvolvimento
1 Quem é o aluno com DM
Para compreendermos como as ações do atendimento
educacional especializado – AEE - podem favorecer o processo de
aprendizagem dos alunos com deficiência mental faz-se importante
discutir aspectos referentes a construção da inteligência nesses alunos,
assim como, tentar esclarecer quem é esse aluno que se classifica como
deficiente mental.
Segundo a Organização Mundial da Saúde/OMS a
deficiência mental pode ser compreendida como o funcionamento
intelectual geral significativamente abaixo da média, oriundo do período
de desenvolvimento, concomitante com limitações associadas a duas ou
mais áreas da conduta adaptativa ou da capacidade do indivíduo em
responder adequadamente às demandas da sociedade, nos seguintes
aspectos: comunicação, cuidados pessoais, habilidades sociais,
desempenho na família e na comunidade, independência na locomoção, saúde
e segurança, desempenho escolar, lazer e trabalho. Vemos então que esse
conceito de DM, que é atualmente utilizado para a realização do
diagnóstico da deficiência, considera três aspectos centrais:
- o funcionamento intelectual abaixo da média;
- a idade de aparecimento das características da deficiência, que deve ser inferior aos 18 anos de idade;
- a dificuldade nos comportamentos auto-regulares ou condutas adaptativas.
Consideramos importante esclarecer que esses aspectos
são aqueles que clinicamente atestam a existência ou não da deficiência
mental e, portanto, entendemos que como profissionais da educação, muito
mais do que procurarmos pelo diagnóstico ou não da deficiência,
precisamos ser capazes de compreender os processos mentais percorridos
por essas pessoas na construção da sua aprendizagem.
Nesse
sentido, nos aliamos às discussões sobre desenvolvimento e aprendizagem
desenvolvidas por Vygostky (que serão discutidas de forma mais profunda
na Unidade B) e olhamos para a deficiência mental como uma dificuldade
presente no momento de internalização das informações captadas pelos
sentidos. Esse processo de internalização de informações possibilita que
nossa inteligência, que em um primeiro momento é elementar/prática vá
se transformando aos poucos em superior/formal. Essa inteligência
superior, ou como Vygotsky chama, esses processos mentais superiores,
são considerados tipicamente humanas e envolvem o controle consciente do
comportamento, a ação intencional e a liberdade do indivíduo em um dado
tempo e espaço (KOHL, 2005).
Assim, segundo Kohl (2005)
quando nos tornamos capazes de organizar nosso pensamento a partir da
internalização das informações concretas do mundo, passamos a ser
capazes de pensar em objetos ausentes, imaginar eventos nunca vividos,
planejar ações a serem realizadas em momentos posteriores. Esses
comportamentos possibilitam a tomada consciente de decisões, o que por
sua vez nos possibilita atuar
no mundo autonomamente. O
alcance desse comportamento voluntário e intencional sobre o mundo é que
se apresenta de forma deficitária no sujeito com deficiência mental,
pois seu processo de aprendizagem é caracterizado pela dificuldade em
deixar de precisar de marcas externas e passar a utilizar signos
internos, ou melhor, dificuldade em representar mentalmente os objetos
concretos do mundo real.
Portanto, ao longo do seu processo de
desenvolvimento o sujeito com deficiência mental deve ser estimulado a
construir seu conteúdo mental, a partir da substituição dos objetos, das
pessoas, das situações, dos eventos do mundo real, etc. Essa capacidade
de lidar com representações que substituem o próprio real (que encontra
defasagens) é que vai possibilitar a esse sujeito libertar-se do espaço
e do tempo presentes, fazer relações mentais na ausência das próprias
coisas, imaginar, fazer planos, ter intenções. (Kohl, 2005).
Nessa
perspectiva, ao pensarmos na organização do AEE para alunos com
deficiência mental, tendo como ponto de partida as características de
seu processo de apropriação do mundo, devemos prever atividades que
(MEC/SEESP, 2006)1:
• Estimulem o desenvolvimento dos
processos mentais: atenção, percepção, memória, raciocínio, imaginação,
criatividade, linguagem, entre outros.
• Fortaleçam a
autonomia dos alunos para decidir, opinar, escolher e tomar iniciativas,
a partir de suas necessidades e motivações.
• Promova a saída
de uma posição passiva e automatizada diante da aprendizagem para o
acesso e apropriação ativa do próprio saber.
• Tenham como
objetivo o engajamento do aluno em um processo particular de descoberta e
o desenvolvimento de relacionamento recíproco entre a sua resposta e o
desafio apresentado pelo professor.
• Priorizem o
desenvolvimento dos processos mentais dos alunos, oportunizando
atividades que permitam a descoberta, inventividade e criatividade.
•
Compreendam que a criança sem deficiência mental consegue
espontaneamente retirar informações do objeto e construir conceitos,
progressivamente. Já a criança com deficiência mental precisa exercitar
sua atividade cognitiva, de modo que consiga o mesmo, ou uma aproximação
do mesmo.
Partindo desses pressupostos, ao olhar para a inclusão escolar de alunos com
deficiência
mental, entendemos que é preciso a reavaliação de nossa estrutura
educacional e social e a revisão de concepções e práticas em relação às
pessoas com deficiências. Quando o olhar destinado à esses alunos buscar
em primeiro lugar conhecê-los como sujeitos de aprendizagem, capazes de
desenvolvimento de processos mentais superiores, as práticas
desenvolvidas poderão então incentivar o alcance consciente e voluntário
de seus comportamentos no grupos sociais em que se desenvolve.
2 Reflexões sobre a aprendizagem do aluno com deficiência mental e o Atendimento Educacional Especializado - AEE
Em consonância com as diretrizes para a efetivação da
escola inclusiva previstas nas políticas educacionais elaboradas no País
há mais de uma década, o Ministério da Educação apresenta em 2008 o
Decreto nº 6.5712 que institui o AEE. Através desse documento o Governo
estrutura oficialmente o AEE, apresentando-o como “um conjunto de
atividades, recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados
institucionalmente, prestado de forma complementar ou suplementar à
formação dos alunos no ensino regular”. Indica ainda que esse
atendimento deve integrar a proposta pedagógica da escola, envolver a
participação da família e ser realizado em articulação com as demais
políticas públicas.
Seus objetivos buscam:
I - prover condições de acesso, participação e aprendizagem no ensino regular aos alunos referidos no art. 1º;
II - garantir a transversalidade das ações da educação especial no ensino regular;
III
- fomentar o desenvolvimento de recursos didáticos e pedagógicos que
eliminem as barreiras no processo de ensino e aprendizagem; e
IV - assegurar condições para a continuidade de estudos nos demais níveis de ensino.
Pelo
Decreto fica estabelecido que o AEE deverá acontecer em salas de
recursos multifuncionais. Nesses espaços os alunos com deficiências,
transtornos globais do desenvolvimento e/ou altas
habilidades/superdotação serão atendidos. As atividades desenvolvidas
não devem representar uma repetição dos conteúdos curriculares
desenvolvidos
em sala de aula, mas sim caracterizarem-se como procedimentos
específicos para a mediação do processo de aprendizagem dos alunos. Ou
seja, na sala de recursos não são trabalhados conteúdos específicos de
matemática ou geografia, por exemplo, mas sim, habilidades que são
necessárias para que o aluno, em sala de aula, possa construir
conhecimentos nessas disciplinas, como orientação espacial e temporal e
capacidade de classificação e seriação.
Tendo a inclusão como
um princípio que orienta nossa compreensão acerca das pessoas com
deficiência, entendemos que para efetivação do processo de aprendizagem
desses alunos, faz-se preciso uma reavaliação de nossa postura enquanto
professores. Neste sentido, uma condição essencial para a facilitação do
desenvolvimento de processos mentais superiores é criar situações em
que o professor possa avaliar os alunos considerando seus atributos
sociais, econômicos e culturais.
Na verdade é conveniente
sugerir que o trabalho pedagógico dos professores que vão atuar com
alunos que possuem diagnóstico de deficiência mental possa transcender o
caráter eminentemente clínico, pois, essa concepção acaba sempre
recaindo no aluno como o único responsável por sua não aprendizagem.
Para tanto entendemos que cada professor possa aliar-se a concepção
sócio-cultural de aprendizagem e assim olhar para seus alunos como
sujeitos produzidos a partir das interações que estabelecem ao longo do
seu desenvolvimento. Essa será a discussão feita na próxima Unidade.
UNIDADE B – Os processo mentais dos alunos com deficiência mental
Introdução:
Entendemos que a prática pedagógica planejada para os
alunos com deficiência mental deve objetivar o favorecimento do
desenvolvimento dos processos mentais desses alunos. Tal aspecto traz
implícito em si a necessidade de conhecermos como esses processos se
realizam. Nessa perspectiva, o conteúdo trabalhado nesta unidade
objetiva oferecer uma discussão a cerca dos fundamentos teóricos que
explicam como se dá o processo de desenvolvimento e aprendizagem dos
alunos com deficiência mental, para que o professor, a partir da
construção dessa compreensão sinta-se seguro para elaborar o seu plano
de atividades e os objetivos de sua intervenção pedagógica com esses
alunos na sala de recursos multifuncionais.
Palavras-chave: contexto, fundamentos teóricos, planejamento.
1 Fundamentos teóricos sobre o desenvolvimento do pensamento nos alunos com deficiência mental
Como já anunciamos, a discussão que será iniciada nesse
momento tem por objetivo apresentar uma fundamentação teórica que dê
sustentação às práticas que serão desenvolvidas ao final do curso, pois
acreditamos que “nosso posicionamento diante de um determinado fato ou
situação e o direcionamento de nossa intervenção em relação a ele
dependem das idéias e concepções teóricas que fundamentam nossa prática”
(PAULON FREITAS, PINHO, 2005, p.11). Assim, esperamos que os autores e
as concepções teóricas aqui apresentados possibilitem à você a
compreensão sobre os processos de desenvolvimento e aprendizagem dos
sujeitos que possuem deficiência mental.
Segundo Paulon,
Freitas & Pinho (2005) o que caracteriza a deficiência mental são,
basicamente, as defasagens e alterações nas estruturas mentais que
possibilitam o processamento das informações. Entretanto, conforme os
referidos autores, é possível olharmos tal condição a partir de
diferentes perspectivas o que resultará, conseqüentemente, no
desenvolvimento de práticas distintas.
Durante muitas décadas
acreditou-se que os indivíduos aprendiam de uma forma única que poderia e
deveria ser generalizada a todos com exceção daqueles que, por
apresentar transtornos de personalidades, limitações cognitivas,
físicas, sensoriais e mentais, não aprenderiam nada além do que sua
deficiência lhe permitisse. A esses sujeitos, que por muito tempo foram
destituídos do estatuto de aprendizes, e portanto não merecedores de
interação em espaços educacionais regulares, foi negada a possibilidade
de aprendizagem, sendo os mesmos segregados durante anos por carregarem a
marca da diferença, no corpo, nas atitudes e no discurso.
Tendo
sua gênese a partir de um modelo clínico de deficiência, a educação
especial se constituiu como uma área de saber clínico-pedagógica, no
qual as práticas desenvolvidas visavam a reabilitação do indivíduo
deficiente para que o mesmo pudesse ser reintegrado à sociedade. No
Brasil o ápice desse paradigma deu-se na década de 70 quando os
atendimentos eram realizados em Instituições especializadas.
Em
sua progressiva afirmação prático-teórica, a Educação Especial absorveu
os avanços da Pedagogia e da Psicologia da Aprendizagem, sobretudo de
enfoque comportamental. O desenvolvimento de novos métodos e técnicas de
ensino baseados nos princípios de modificação de comportamento e
controle de estímulos permitiu a aprendizagem e o desenvolvimento
acadêmico desses
sujeitos, até então alijados do processo educacional. (GLAT & FERNANDES, 2005, p. 37)
A
abordagem comportamentalista que apresenta Skinner3 como um de seus
expoentes constituiu-se então como uma forte corrente teórica para o
embasamento das práticas em educação especial nas instituições.
Desconsiderando as manifestações subjetivas dos indivíduos, a teoria
skinneriana buscava o controle do meio e das variáveis que determinavam
os comportamentos, acreditando que os reforços recebidos pelos sujeitos
diante de determinados comportamentos poderiam facilitar a aquisição de
novos conhecimentos. Nessa abordagem a deficiência mental era
considerada uma conduta atrasada que poderia, através de uma organização
dos estímulos do ambiente pelo professor, ser modificada e, para tanto o
professor deveria ter competências para controlar e manipular as
condições do ambiente.
Fundamentada nessa abordagem teórica a
educação especial viu-se desenvolvendo métodos e técnicas de ensino
específicas para as diferentes categorias de deficiência que
possibilitassem ao professor o controle e a análise de variáveis dos
comportamentos de seus alunos. No entanto, como nos lembra Glat &
Fernandes (2005), essa abordagem de ensino não favoreceu o ingresso dos
alunos com deficiência nas escolas regulares, os mesmos permaneciam
segregados, e a educação especial continuava a ser um serviço paralelo
da educação regular, possuindo inclusive metodologias de ensino e
currículos próprios.
Com a evolução das sociedades e o
desenvolvimento de discursos sobre os direitos humanos em todo o mundo,
nosso país começa também a repensar os processos de exclusão das
minorias, e assim, novas possibilidades de ensino são pensadas para as
pessoas que possuem deficiência. Em termos teóricos fomos apresentados à
abordagem interacionista de Jean Piaget e à abordagem
sócio-interacionista de Lev. S. Vygostsky, ambas destacando papel
determinante para a interação do sujeito com o mundo que o cerca.
Percebendo
então, a necessidade de ressignificar alguns de seus importantes
aspectos, os profissionais da educação e da educação especial juntamente
com familiares e sujeitos com deficiências passam a pensar na
possibilidade de desenvolver não mais uma prática à parte, mas sim uma
prática constitutiva do sistema regular comum de educação do país. Tais
discussões culminaram em todo o mundo em uma proposta de educação
inclusiva, que hoje está presente nas legislações federais, estaduais e
municipais que amparam nossas práticas educacionais.
Diante
das políticas de educação inclusiva a educação especial “que por muito
tempo configurou-se como um sistema paralelo de ensino” (GLAT &
FERNANDES, 2005, p.36) destinado ao atendimento, em espaços
institucionais, dos alunos com deficiências, está revendo o seu papel,
vislumbrando outras abordagens teóricas que sustem o seu fazer
pedagógico, buscando ainda atuar como parceira das escolas regulares, no
trabalho que desenvolvem com esses alunos.
Tendo em mente que
os processos de desenvolvimento e aprendizagem têm-se constituído como
objeto de estudos de importantes teóricos há muitas décadas,
procuraremos de forma breve discutir as concepções de desenvolvimento e
aprendizagem dos sujeitos que possuem deficiência mental, a partir dos
estudos de Piaget e Vygotsky, pois acreditamos que os mesmos
sobressaem-se como embasamento de tais práticas nos dias de hoje.
A esse respeito, o que dizia então Piaget em sua teoria?
Acreditando na interdependência entre sujeito e meio e
não na supremacia de um sobre o outro, as teorias interacionistas
apresentam destaque na área da educação, sendo utilizadas como
embasamento teórico da quase totalidade das práticas desenvolvidas
atualmente Como um dos grandes representantes dessa corrente está Jean
Piaget4, que com sua Epistemologia Genética “afirmou que a construção do
conhecimento se dá na ação recíproca e interativa entre sujeito e os
objetos do conhecimento” (MARQUES, 2001, p. 74).
Compreendia o
desenvolvimento humano como resultado de 4 estágios (Sensório Motor;
Pré-Operatório; Operatório-Concreto e Operatório-Formal)5 que marcam e
delimitam o aparecimento de estruturas mentais cada vez mais elaboradas.
Cabe ressaltar que cada estágio apresenta uma ordem de sucessão fixa e
imutável, mas a idade cronológica para a superação de cada um pode
variar de acordo com as
condições do indivíduo e do
ambiente em que está inserido. O desenvolvimento se dá então segundo
Piaget pela organização progressiva da mente, a partir de processos
simultâneos de assimilação e acomodação. (MAGALHÃES, 2003, p. 104)
Em
seus estudos Piaget não se preocupou em estudar a gênese do
desenvolvimento da inteligência das crianças com necessidades especiais,
mas sua grande colaboradora o fez. Barbel Inhelder (1968) utilizando o
método clínico de Piaget desenvolveu pesquisas com crianças que possuíam
deficiência mental. Pensou em formas de intervenção psicopedagógicas
que possibilitassem o avanço no desenvolvimento cognitivo desses
sujeitos, sendo essa uma de suas grandes preocupações. Segunda a mesma, a
base para o planejamento de uma intervenção deve ser uma avaliação
detalhada que possibilite a identificação do estágio de desenvolvimento
cognitivo em que se encontra o aluno. No entanto, ressalta a autora que
faz-se necessário um extremo cuidado em não somente ocupar-se da
identificação diagnóstica desse aluno, mas sim, buscar compreender qual o
processo seguido para a construção de seu pensamento, evitando dessa
forma a reprodução da prática diagnóstica presente nas avaliações
psicométricas.
Estabelecendo uma comparação entre o
desenvolvimento mental de crianças com e sem deficiência mental, a
autora identifica que a criança com deficiência mental vivencia os
mesmos estágios de desenvolvimento que a criança que não possui tal
deficiência, porém de uma forma lentificada, explicando ainda que a
tendência é que esse desenvolvimento apresente uma estagnação em
determinado momento de sua evolução.
Dando continuidade à essa
comparação, Inhelder esclarece que de acordo com os pressupostos
piagetianos a regra geral do curso do desenvolvimento cognitivo dá-se de
forma ascendente, “das estruturas menos complexas para as mais
complexas do pensamento” (BEYER, 2002, p. 44). Em relação a deficiência
mental, segundo a autora, “o pensamento da criança parece apresentar um
falso equilíbrio” (op.cit.) característica que ela denomina de
“viscosidade no raciocínio”.
Em vez da construção contínua de
estruturas novas do pensamento, a criança portadora da deficiência
mental “regressa mais freqüentemente que a criança normal a modos
anteriores de pensamento, dos quais tem um hábito mais prolongado. Recai
neles como em fossos mais profundamente escavados” (INHELDER apud BEYER
, 2002, p. 45)
Na verdade, a deficiência mental poderia ser
considerada precisamente a fixação em fases anteriores de
desenvolvimento. Essas fixações verificariam-se em vários níveis do
desenvolvimento, ocasionando um ritmo mais lento no curso do
desenvolvimento cognitivo e, evidentemente, a definição de distintas
características mentais, com nível precário de equilíbrio, devido a
dificuldade na sua capacidade adaptativa às demandas do meio (BEYER apud
MAGALHÃES, 2003, p. 106).
A aprendizagem do aluno com
deficiência mental então, segundo os estudos de Inhelder é comprometida.
Conforme a autora à esses indivíduos falta a objetividade do pensamento
o que conseqüentemente acarreta na incapacidade metacognitiva, ou seja
dificuldade para planejar e avaliar suas ações sobre o meio.
Diante
dos pressupostos aqui apresentados faz-se oportuno compartilhar com
você a preocupação apresentada por Beyer (2002) em relação às
possibilidades de intervenção pedagógica pensadas a esses alunos a
partir das concepções de Inhelder. O autor chama-nos a olhar de forma
crítica, refletindo sobre a necessidade de não embasarmos nossa atuação
somente a partir da mesma, pois dessa forma corremos o risco de
desenvolver um trabalho que tende a ser limitante ao aluno.
Oportunamente Beyer (2002, p. 48) apresenta-nos uma reflexão a cerca
desse aspecto, procurando questionar o real limite entre teoria e
possibilidade práticas de superação dessa estagnação no pensamento dos
alunos com deficiência mental: “De fato não há como transpô-los? Como
fica, afinal a tarefa pedagógica especializada no sentido da superação
dos mesmos?” questiona-se, ressaltando ainda que
(...) Uma
aprendizagem crescente no sentido da abstração gradual, da
generalização, da formalização do pensamento, da construção de
conceitos, é utópica e fadada ao fracasso. O que nos parece, e
provavelmente a muitos dos leitores, é que a compreensão psicogenética
das possibilidades intelectuais da criança cognitivamente prejudicada
apresenta uma perspectiva da limitação (para não dizer do fracasso) da
tarefa pedagógica. (op. cit)
Atualmente as discussões a cerca
dos aspectos que constituem a educação no cenário da educação inclusiva
fazem emergir outros olhares para a educação de alunos com deficiência. O
movimento de “educação para todos” proposto pelo Governo Federal
enfatiza as diferenças existentes nos espaços escolares, ressaltando a
existência de modos individuais de aprendizagem e assim, convida-nos a
repensar nossa atuação profissional, fazendo-nos refletir acima de tudo
sobre qual a melhor
forma de desenvolvermos uma educação que ao mesmo tempo em que é para todos deve ser para cada um.
Assim,
percebendo o risco de limitação na discussão conduzida por Inhelder e
compreendendo que a partir da proposta da educação inclusiva uma outra
educação precisa ser pensada, discutiremos agora aspectos constitutivos
da teoria vygotskyana, dando ênfase ao conceito de zona de
desenvolvimento proximal. Concebemos a mesma como uma possibilidade de
aprendizagem para todos os alunos, inclusive para aquele avaliado como
inabilitado para alcançar o pensamento formal, e que por isso durante
anos foi excluído dos espaços educacionais comuns à todos.
2 O desenvolvimento dos processos mentais dos alunos com deficiência mental
Lev Semionovitch Vygotsky6 é conhecido no meio acadêmico
como sendo o expoente da abordagem sócio-interacionista, e em se
tratando de educação especial, constitui-se como um marco teórico no que
tange as pesquisas e os estudos teóricos e práticos sobre o processo de
desenvolvimento e aprendizagem das pessoas que possuem deficiências,
motivo pelo qual o trazemos para nossa discussão.
Contemporâneo
de Piaget, Vygotsky inicia a refletir sobre esses processos e a
elaborar sua teoria a partir de um sentimento de inquietação e não
concordância com os pressupostos defendidos pelo comportamentalismo,
abordagem que em sua época imperava na atuação psicológica e
educacional.
Interacionista como Jean Piaget, acreditava que
as idéias de que o controle do ambiente pode predizer comportamentos e
que a maturação das estruturas orgânicas que constituem os sujeitos, por
si só, não poderiam explicar os processos que constituem o pensamento
humano. Defendia a existência de uma interdependência entre aspectos
orgânicos e ambientais, e não a supremacia de um fator sobre o outro.
Acreditava
nas influências exercidas pelo meio no desenvolvimento dos sujeitos.
Tomando como referência o ambiente cultural no qual o indivíduo nasce e
se desenvolve, deslocando o foco dos estudos sobre desenvolvimento dos
fatores físicos e psíquicos, concentrando-o em aspectos sociais. Assim, a
origem das mudanças que
ocorrem no homem, ao longo do seu desenvolvimento, está, segundo seus princípios, na sociedade, na cultura e na sua história.
Concebeu
o sujeito como um ser não apenas ativo, mas interativo, porque constrói
o conhecimento e se constitui a partir de relações intra e
interpessoais que estabelece ao longo de sua vida. Ou seja, afirmou que é
na troca com outros sujeitos e consigo próprio que os conhecimentos são
internalizados, assim como os papéis e as funções sociais, o que
permite a constituição de conhecimentos e da própria consciência.
Trata-se assim, de um processo que caminha do plano social (relações
interpessoais) para o plano individual interno (relações intrapessoais).
Para esse autor, como se processa o desenvolvimento do pensamento nas pessoas com deficiência mental?
Segundo
os estudos de Vygotsky, o desenvolvimento das crianças que possuem
deficiência mental dá-se em essência da mesma forma que o
desenvolvimento de crianças que não possuem essa especificidade. De
acordo com Beyer (2005) “é importante frisar que ele não fazia
distinção, quanto ao desenvolvimento ontogenético, entre crianças com e
sem necessidades especiais” (103). Propôs na verdade que compreendamos
as linhas gerais do desenvolvimento dos sujeitos que não possuem
deficiências para que possamos identificar quais as peculiaridades do
desenvolvimento dos sujeitos com deficiências, sendo capaz, a partir
desse conhecimento, de organizar uma ação pedagógica significativa à
esses alunos.
Assim, segundo Beyer (2005) Vygotsky aponta que a
intervenção pedagógica para os alunos que possuem necessidades
especiais, ao contrário do que se propôs durante muitas décadas em
educação especial, deve primar pela ação nas funções psicológicas
superiores. Fixados na idéia de incapacidade desses sujeitos em alcançar
um pensamento formal vimo-nos por muito tempo cometendo o erro de
limitar a atuação desses alunos apenas ao aspecto concreto e observável
dos objetos, eliminando do ensino tudo o que se relacionava ao
pensamento abstrato.
A abordagem vygotskyana anuncia,
contrariamente às práticas freqüentemente desenvolvidas na educação
especial, isto é, voltadas para compensações terapêuticas e reforços
primários de comportamento, que as melhores possibilidades de
desenvolvimento e aprendizagem das crianças com necessidades especiais
encontram-se justamente na esfera onde menos se acredita que estas
possam crescer, ou seja, nas funções metais superiores. A “história
didática” da educação especial ilustra isto muito bem: as escolas
especiais
sempre primaram por desenvolver práticas baseadas em recursos
metodológicos concretos ou manuais, acreditando na debilidade dos alunos
em representar abstratamente. (BEYER, 2005, p. 104)
Sabemos
hoje, a partir dos pressupostos vygotskyanos, que precisamos e devemos
utilizar recursos pedagógicos variados para a realização das atividades
pedagógicas, respeitando sempre as especificidades individuais de nossos
alunos e utilizando sim o material concreto. Esses devem ser empregados
nas situações de ensino-aprendizagem pela limitação de representação
formal por parte dos alunos com deficiência mental, porém, a diferença
na concepção sobre utilização dos mesmos reside no fato de que hoje
sabemos que precisamos propor atividades que se encadeiem numa
progressão sistemática do nível concreto ao abstrato em direção à
representação mental.
Trabalhando com a existência de dois
níveis de desenvolvimento, um que ele denomina de real, e outro de
potencial, Vygostsky apresenta-nos o conceito de zona de desenvolvimento
proximal como a distância existe entre a passagem de um nível de
desenvolvimento à outro pelo indivíduo. A compressão desse aspecto da
teoria em questão é crucial para todos que desejam entender a relação
entre aprendizagem e desenvolvimento em Vygotsky.
Segundo este
autor, educadores e psicólogos mantiveram-se basicamente preocupados
por muito tempo em conhecer o nível de desenvolvimento real do
indivíduo. Um exemplo desta preocupação é verificado na utilização de
testes e escalas para a determinação do nível de desenvolvimento do
indivíduo. Durante a aplicação desses testes é comum que o profissional
assuma uma postura neutra, distante, sem oferecer qualquer tipo de
ajuda. Assim, medem o desempenho do sujeito ao final do processo,
procurando compatibilizar erros e acertos, mas não consideram o processo
vivenciado pelo indivíduo na resolução da questão proposta.
Ainda
hoje encontramos práticas que tendem a valorizar apenas o nível de
desenvolvimento real dos alunos, seja durante as aulas, seja nos
momentos de avaliação que consideram apenas o produto, ou seja, o que os
alunos conseguem responder e não como conseguiram chegar às respostas.
Diante
dessa realidade é que Vygotsky chama-nos a perceber que existe um outro
nível de desenvolvimento – o potencial – que, tanto quanto o nível
real, necessita ser considerado na prática pedagógica.
Quando
eu não consigo realizar sozinho determinada tarefa, mas faço com a ajuda
de outros, estou mostrando que em meu nível de desenvolvimento proximal
já construí aspectos noções e conceitos a cerca da aprendizagem que
está se efetivando. Portanto, o nível de desenvolvimento mental de um
aluno, não pode ser determinado apenas pelo que consegue produzir de
forma independente, é necessário conhecer o que ele consegue realizar
com a ajuda de outras pessoas.
O conhecimento do processo que a
criança realiza mentalmente é fundamental uma vez que o desempenho
correto nem sempre significa uma operação mental bem realizada. O acerto
pode significar, apenas, uma resposta mecânica. Daí a importância do
professor conhecer o processo que a criança utiliza para chegar a
determinadas respostas. Do mesmo modo, conhecendo esse processo, e
intervindo, provocando, estimulando ou apoiando quando a criança
demonstra dificuldade num determinado ponto, podemos trabalhar funções
que ainda não estão consolidadas. Dito em outras palavras, através de
experiências de aprendizagem compartilhadas e mediadas, atuamos nesta
zona de desenvolvimento proximal do aluno.
Tendo em mente os
aspectos acima discutidos, Vygotsky ainda ressalta que quando limitamos
os alunos com deficiência mental em espaços nos quais ele só interage
com outros alunos com a mesma deficiência estamos desenvolvendo uma
“ação danosa” a esses indivíduos. Beyer coloca-nos a seguinte reflexão
de Vygotsky
Agora resulta evidente o quão profundamente
antipedagógica é a regra segundo a qual, por comodidade, selecionamos
coletividades homogêneas de crianças atrasadas. Ao proceder assim, não
apenas vamos contra a tendência natural do desenvolvimento das crianças,
senão que – o que é muito mais importante – ao privar a criança
mentalmente atrasada da colaboração coletiva e da comunicação com outras
crianças que estão (intelectualmente) acima dela, não atenuamos senão
que acrescentamos a causa imediata que determina o desenvolvimento
incompleto de suas funções superiores. (...) Esta diferença de níveis
intelectuais é uma condição importante da atividade coletiva. (VYGOTSKY
apud BEYER, 2005, p. 107)
Vygotsky acreditou na capacidade de
aprendizagem de todos os sujeitos, discordando de forma impetuosa das
concepções teóricas que defendiam a estagnação e a cristalização da
capacidade intelectual dos alunos com deficiência mental. Para ele todo o
ser humano apresenta ao nascer possibilidades de progresso intelectual,
dizia, na verdade, que nós nascemos todos com uma única capacidade, a
capacidade para aprender.
A singularidade do desenvolvimento
da pessoa com deficiência está nos efeitos positivos da deficiência, ou
seja, nos caminhos encontrados para a superação do déficit. Dessa forma,
a pessoa com deficiência não é inferior aos seus pares, apenas
apresentam um desenvolvimento qualitativamente diferente e único. O meio
social pode facilitar ou dificultar a criação desses novos caminhos de
desenvolvimento (MARQUES, 2001, p. 85)
Assim, diante do que
foi aqui exposto concluímos que as possibilidades de desenvolvimento que
uma pessoa com deficiência pode apresentar são determinadas não
exclusivamente pelas suas limitações orgânicas, mas principalmente pelas
vivências possibilitadas à essas pessoas. Segundo Vygotsky mostrou-nos,
as deficiências orgânicas podem afetar não somente a interação que os
indivíduos com déficits cognitivos estabelecem com o meio físico, mas
sim e principalmente a qualidade das interações estabelecidas com outros
sujeitos sociais, o que por sua vez afetam sobremaneira seus processos
de desenvolvimento e aprendizagem.
Lembramos que as atuais
políticas de educação inclusiva encontram na teoria vygotskyana os
principais argumentos para sua defesa, pois acreditam que possibilitar
que alunos com diferentes ritmos de desenvolvimento interajam em espaços
não segregados é proporcionar a realização de um ensino que se adianta a
aprendizagem; oferece aos alunos desafios constantes; e trabalha na
zona de desenvolvimento potencial dos mesmos, transformando
aprendizagens potenciais em conhecimentos reais.
Para
concluir, lembramos que o planejamento de atividades que promovam o
desenvolvimento dos processos mentais dos alunos que possuem deficiência
mental, se concebido sob a ótica vygotskyana deverá prever situações em
que os alunos, trabalhando na perspectiva da cooperação estabelecem
trocas qualitativas entre si. Além desse aspecto, precisamos
possibilitar vivências desafiantes, nas quais os alunos com deficiência
mental sejam estimulados, através da resolução de problemas, a transpor
seu nível de desenvolvimento real.
Quando pensamos em
atividades que estimulem o desenvolvimento dos processos mentais
superiores dos alunos com deficiência mental obrigatoriamente nos
reportamos à necessidade de redefinirmos nossa postura e concepção
frente a esses alunos, acreditando na possibilidade que todos temos de
construir conhecimento. Nessa perspectiva, o ambiente da sala de recurso
multifuncional deve constituir-se como um espaço de aprendizagem onde
aluno e professor, juntos, através da reflexão, resolvem problemas,
superam desafios, transcendem obstáculos e limitações. Dessa forma
todos, independentemente de suas dificuldades, terão a possibilidade
de alcançar a construção de conhecimentos, o exercício consciente da
cidadania e uma efetiva participação na sociedade.
UNIDADE C – A escola como um espaço de respeito a diferença
Introdução:
As reflexões contidas nesta unidade partem do
entendimento de que a previsão de acesso aos alunos com deficiência
mental no ensino comum e seu atendimento em salas de recurso, não são
garantia de que o processo inclusivo se efetivará. Para tanto é
necessário discutir a formação de professores, minimizar a distância,
historicamente produzida, entre ensino comum e educação especial
estruturando uma efetiva parceria entre todos os sujeitos envolvidos no
processo de inclusão de alunos com deficiência mental em escolas
regulares. Ressaltamos que essa parceria é que possibilitará o
desenvolvimento de um ambiente onde a diferença seja significativamente
respeitada e no qual os alunos tenham condições de conquista da
independência, autonomia, e superação das dificuldades. Assim, estaremos
colaborando de forma determinante na efetivação da proposta de uma
educação para todos.
Palavras-chave: parcerias, diferença, educação para todos.
1 Inclusão/exclusão dos alunos com deficiência na escola regular
Temos observado principalmente a partir da década de 90 o
crescimento e o fortalecimento dos ideais de inclusão das pessoas com
deficiência nos espaços sociais, porém, podemos presenciar de forma
significativa a existência de concepções de deficiência presas às
dificuldades que esses sujeitos podem apresentar durante seu
desenvolvimento. Provavelmente tal aspecto tenha gênese na falta de
conhecimento e na desinformação da sociedade como um todo em relação às
potencialidades dessas pessoas.
Nesse sentido, ao assumir o
fortalecimento social do paradigma da inclusão, não se está delegando à
exclusão a condição de superada, pois, o próprio significado de inclusão
traz em si a dimensão da existência de exclusão. Assim sendo,
entende-se que não se pode incluir em determinado grupo alguém que a ele
já pertença, mas, apenas aquele que se encontra excluído dele, ou seja,
para haver inclusão, necessariamente tem que existir exclusão.
Macedo
(2002, p.2), ao tentar adentrar o universo da exclusão, buscando
compreender quais os fundamentos que a constituem e a instituem, expõe
que a “lógica da exclusão apóia-se na lógica das classes”. Classificar,
conforme o dicionário Ferreira (1999, p.484) apresenta o significado de
“determinar as categorias em que se divide e subdivide um conjunto”,
“distribuir em classes e/ou grupos, segundo sistema de classificação”.
Portanto, ao classificar, busca-se perceber as semelhanças e as
diferenças entre os elementos, a fim de agrupar por meio de um critério
comum os elementos que se equivalem e excluir aqueles que não se
enquadram em tal critério. Ao transpor esse pensamento de classe para a
escola, pode-se constatar que historicamente a educação estabeleceu
categorias que agrupam os alunos em aptos e não aptos ao ensino comum.
Hoje, podem-se ler nesses antigos não aptos, os atuais excluídos a ser
incluídos no contexto escolar, no contexto social.
Nesse
sentido, o referido “raciocínio de classe”, o pensamento que segrega,
que exclui, promove a estruturação de um mundo subjetivo acerca do
excluído, uma dimensão paralela que se faz presente, cotidianamente, em
nossa escola, na dimensão física, através das práticas que legitimam
essa exclusão. Em outras palavras: nas relações estabelecidas entre os
pertencentes e os excluídos de determinada categoria social, são
desencadeadas emoções, as quais se somam com os valores dos não
excluídos, e acabam por influenciar suas disposições psíquicas, ou seja,
suas atitudes
em relação aos excluídos. Conforme Amaral
(1994, p.17), as atitudes “correspondem a um posicionamento (quase
corporal) frente a dado fenômeno. Exprimem um sentimento e preparam uma
ação. (...) Referem-se, portanto, a uma disposição psíquica ou afetiva a
determinado alvo: pessoa, grupo ou fenômeno”.
Dessas atitudes
dos não excluídos é que derivam seus preconceitos em relação aos
excluídos, pois elas podem se constituir em atitudes positivas ou
negativas. Cabe ressaltar que esses preconceitos, segundo Amaral (1994,
p.37), “como o próprio nome já diz, são conceitos pré-existentes,
portanto desvinculados de uma experiência concreta”, assim sendo, são
anteriores a qualquer conhecimento.
No contexto das idéias
acima expostas, se reconhece a necessidade de que os professores, sejam
eles da educação especial ou da classe comum, discutam e reflitam
determinadas atitudes, compreendam determinadas ações, pensamentos e
comportamentos que legitimam preconceitos ocorridos na escola, para que
possam efetivamente contribuir no processo de inclusão de alunos com
diferentes potencialidades.
Cabe ressaltar, que ao estipular
que o professor do ensino comum deva estar qualificado para atender as
especificidades educacionais dos alunos, implicitamente estão sendo
exigidas, desse professor, competências específicas que, muitas vezes,
não foram contempladas no seu curso de formação. O reconhecimento dessa
necessidade não torna o professor do ensino comum peregrino solitário na
busca por caminhos de atualização, porém para avançarmos nesta
discussão é imprescindível refletirmos sobre algumas das
responsabilidades do professor de sala de recursos.
Consta no
artigo 58° - § 1°, da LBD, Lei n° 9394/96, que “haverá, quando
necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular para
atender às peculiaridades da clientela de educação especial”.
Considerando assim, ser de responsabilidade do professor da sala de
recursos prestar “apoio especializado”, a fim de garantir o atendimento
às “peculiaridades” dos alunos com deficiências, porém é necessário
enfocar que o “apoio” nem sempre deverá se restringir as quatro paredes
da sala de recursos, como também, dependendo da sua função, ele nem
mesmo se restringirá ao aluno.
2 Funções do professor da sala de recursos no contexto escolar
- Realizar o apoio pedagógico ao aluno com deficiência mental em sala de recursos;
- Interagir com o contexto de sala de aula, a fim de conhecer e favorecer as relações do aluno com deficiência mental com os diferentes conhecimentos, professores e colegas;
- Desenvolver estratégias que fortaleçam os vínculos entre pais e escola, a fim de conhecer a realidade do aluno com deficiência mental e envolver a família no processo inclusivo de seu filho;
- Mediar a sensibilização dos atores envolvidos no processo de inclusão, proporcionando reflexões, suporte teórico-prático e vislumbrar alternativas de intervenções pedagógicas frente aos alunos com deficiência mental.
Enfim, dentre essas funções do professor de sala de
recursos, podemos considerar que ele é um mediador, um articulador de
processo de inclusão de alunos com deficiência mental. Processo esse,
que na sua complexidade envolve a questão que desencadeou essa reflexão:
“o professor do ensino comum não é um peregrino solitário na busca por
caminhos de atualização”.
A necessidade de capacitação não se
constitui como uma carga nova nos ombros do professor, nem será algo que
ocorrerá somente através de cursos específicos que contemplam a
temática da inclusão, mas envolve também, essa parceria com o professor
da sala de recursos, os diversos momentos de trocas, os quais podem
ocorrer na sala de aula, na sala de recursos, em reuniões, no recreio,
na sala dos professores,... enfim, em diferentes momentos de reflexão
sobre a prática de ensino-aprendizagem, sobre casos de alunos reais,
sobre o contexto específico da sua escola.
Diante de tantos
desafios, não é necessário ao professor de sala de recursos ter
“superpoderes” para transmitir respostas prontas ao professor, para que
ele melhore sua atuação com alunos com deficiência mental em sala de
aula. No entanto, é oportuno enfatizar que “sozinho” o professor de sala
de recursos, por mais disponibilidade e conhecimentos que possua poderá
encontrar inúmeras barreiras político-administrativas no desempenho de
suas funções.
Assim sendo, é necessário não apenas minimizar a
distância, historicamente produzida, entre ensino comum e educação
especial, mas é imprescindível o estabelecimento de vínculos de apoio
entre os sujeitos envolvidos no processo educacional, aspecto esse
contemplado no Art. 8° da Resolução CNE/CEB n° 02/01, “as escolas da
rede regular de ensino devem prever e prover (...) VII –
sustentabilidade do processo inclusivo, mediante (...) trabalho de
equipe na escola e constituição de redes de apoio (...)”. Pois, o
estabelecimento dessa parceria entre corpo docente, diretores,
supervisores, coordenadores, orientadores educacionais e família se
constituirá como o sustentáculo capaz, tanto de identificar e analisar
as possíveis barreiras que se interpõem no processo de inclusão, quanto
de propor alternativas passíveis de superá-las.
Acreditamos,
ainda, que apenas a partir dessa parceria a escola estará apta a
desenvolver a autonomia e interação dos diferentes sujeitos que nela
atuam, constituindo-se assim como um ambiente social que verdadeiramente
valoriza a diferença; evita comportamentos de dependência e passividade
dos alunos em processo de inclusão diante da realidade que os cerca, e
trabalha para a conquista da independência, autonomia, e superação das
dificuldades desses alunos em seus processos de aprendizagem,
colaborando de forma determinando na efetivação da proposta de uma
educação para todos. Portanto, se propõe a busca pela superação da
exclusão, a busca de um novo caminho. É certo que esse caminho não será
tão fácil de ser percorrido, quanto aquele traçado por normas estáveis,
mas só os trajetos de insegurança permitirão que a escola caminhe sem
ficar no mesmo local, só esses caminhos são passíveis de avançar para um
lugar de onde se consiga ver um novo horizonte em educação.
UNIDADE D – Indicadores de uma ação pedagógica para alunos com deficiência mental
Introdução:
Partindo da perspectiva delineada na construção das
unidades anteriores, consideramos que a escola precisa romper com a
concepção de que existe uma forma única pela qual os alunos constroem
seus conhecimentos. Nesse sentido, como assumimos uma postura que
desconsidera modelos de práticas pré-estabelecidas, apresentaremos aqui
alguns indicadores de uma ação pedagógica para alunos com deficiência
mental, quais sejam: o planejamento, a aprendizagem significativa, e a
utilização do computador como ferramenta na aprendizagem do aluno.
Entendemos que ao considerarmos tais indicadores na construção de nossa
prática, poderemos desenvolver atividades mais significativas para a
aprendizagem do aluno com deficiência mental.
Palavras-chave: planejamento, aprendizagem significativa, computador.
1. Planejamento
Toda aula começa muito antes da aula propriamente dita,
ou seja, antes do professor e dos alunos adentrarem o espaço físico da
sala de recursos. Mas, esse momento que antecede o contato direto entre
professor e alunos, muitas vezes, é direcionado de forma diferente.
Alguns
professores se aprisionam em inúmeras atividades de livros didáticos e
cartilhas que mais parecem um cardápio, sendo que essas receitas acabam
por engessar o ato do planejamento. Outros por sua vez, apostam na
intuição, no entanto, assim como o engenheiro não constrói o prédio da
escola sem um projeto, o professor, por mais experiente que seja, não
favorece a construção do conhecimento, na sala de recursos, sem
planejar.
Portanto, nas discussões educacionais, o enfoque
deixa de ser “planejar ou não planejar, eis a questão?”, pois é consenso
que o planejamento é o fio condutor do processo ensino-aprendizagem. É
nele que os objetivos são articulados às estratégias, ou seja, é por
meio dele que as práticas educacionais tornam-se adequadas às reais
necessidades dos alunos. Isso não significa dizer que o planejamento é
algo estanque, fechado e completo, pelo contrário, conforme a exposição
de Fusari (2004) "o importante é manter o planejamento como uma prática
permanente de crítica e reflexão".
A partir do exposto, os
questionamentos ampliam-se: O que se propõe então? Quais as etapas desse
processo? Tentando contribuir no desvelamento desse processo,
apresentamos a seguir algumas sugestões, as quais podem evitar
contratempos na elaboração do seu planejamento.
Para planejar é preciso...
- Conhecer o aluno
Ao
elaborar o planejamento devemos romper com a concepção de educação
acrítica que contempla uma visão de alunos iguais. Nesse enfoque, o
planejamento pode ser metaforicamente comparado a uma fôrma, na qual
todos alunos devem se enquadrar e, portanto, na prática, todos devem
construir o conhecimento pelos caminhos traçados pelos procedimentos
pedagógicos, previamente estipulados.
Esse “planejar”,
implicaria em revisitar o, já mencionado, momento dos “métodos e
técnicas” e das especificidades da Educação Especial, no qual se previam
metodologias de ensino específicas para alunos específicos, dentre eles
os alunos com deficiência mental. Contrapondo esse pensamento, Mrech
(2001, p.06), enfatiza que “o mesmo tipo de deficiência pode gerar
processos inteiramente diferentes de desenvolvimento do aluno, a partir
de contextos sociais distintos. (...) Cada caso é um caso e tem que ser
considerado de uma maneira específica”.
Nesse sentido, ao planejar as atividades em sala de recursos, você deve atentar que é preciso conhecer seu aluno:
- em sua realidade familiar e social;
- em suas características pessoais;
- em seus interesses e peculiaridades;
- em seu processo de aprender;
- em suas necessidades de aprendizagem;
- em que ele já sabe e o que está em vias de aprender.
Considerando
esses aspectos poderemos organizar um planejamento voltado para a
diversidade de alunado que temos em nossa sala de recursos e que
contemple suas reais necessidades e potencialidades de aprendizagem,
para que assim, todos possam aprender e conseqüentemente se desenvolver.
- Coletividade
Conforme
consta no Art. 8° da Resolução CNE/CEB n° 02/01, no inciso V, em sala
de recursos será realizada “a complementação ou suplementação
curricular”, bem como, no inciso IV, alínea “a”, as classes comuns devem
contar com a “atuação colaborativa de professor especializado em
educação especial”. A partir do exposto compreende-se que a organização
do planejamento deve superar a prática fragmentada e desarticulada, onde
o professor de sala de recursos e o professor de sala de aula realizam
individualmente os seus trabalhos, pois, mesmo que ambos estejam
capacitados, individualmente farão menos que o necessário na construção
de uma escola para todos.
Com o entretecimento dessa parceria
na elaboração do planejamento, ambos professores deixam de ser
responsáveis solitários frente às ações de enfrentamento
das
desigualdades existentes, dos mecanismos de exclusão herdados de uma
educação homogeneizadora. Sendo que, ao estabelecerem trocas de
experiência, ao trabalharem em equipe, em cooperação poderão ter uma
percepção mais coesa e compreensiva das barreiras de aprendizagem e dos
diferentes estilos de aprendizagem dos seus alunos. Enfim, o
planejamento alicerçado na coletividade contribuirá para a definição de
objetivos e da escolha de procedimentos e recursos que atendam as reais
necessidades dos alunos, favorecendo o processo de construção de
aprendizagem e o desmantelamento de práticas educacionais socialmente
cristalizadas, em busca de mudanças conceituais e atitudinais, sobretudo
de novos caminhos para que o processo educacional seja, de fato,
significativo para todos.
- Prever diferentes métodos de ensino
A
utilização de um único método de ensino pode até contribuir para a
construção da aprendizagem de alguns alunos, no entanto, esse mesmo
método específico pode se constituir como barreira de aprendizagem para
outros. Nesse sentido, o professor precisa planejar variadas estratégias
de ensino, pois nem todos alunos constroem o conhecimento pelos mesmos
caminhos, ou seja, os alunos têm diferentes estilos de aprendizagem.
Cabe
ressaltar, que ao enfatizar que não existe um método ideal para o
direcionamento das atividades em sala de recursos, de forma alguma se
propõe que deva ser utilizada uma gama de métodos indiscriminadamente.
Mas sim, refletir constantemente sobre o processo de ensino e
aprendizagem, ou seja, sobre a própria prática e sobre as oportunidades
de interação do aluno com o objeto de conhecimento, a fim de avaliar a
eficácia das estratégias, bem como propor adaptações e/ou alteração de
procedimentos.
Enfim, quanto mais diversificados e adequados
às diferenças de ritmo e estilos de aprendizagem dos alunos forem os
métodos de ensino, menores serão as barreiras de aprendizagem.
- Ter a clareza de que o planejamento é um processo
Considerando
todos os aspectos mencionados que devem ser considerados no processo de
elaboração do planejamento, torna-se difícil conceber que na prática o
trabalho não vai sair exatamente como o conjeturado. Porém, interesses
inesperados, imprevistos de diferentes ordens e o próprio caráter
processual do desenvolvimento do aluno, tornam o planejamento uma
previsão sujeita a erros. Portanto, o planejamento é entendido como um
processo, ou seja, ele deve ser flexível e passível de alteração sempre
que necessário.
Quem nos avisará da necessidade de alterarmos o
nosso planejamento? Ninguém mais que o nosso próprio aluno! É claro que
o aviso não será recitado em forma de poema, prosa ou verso. Pode ser
que nem mesmo o aluno compreenda que o planejamento não está respondendo
aos seus anseios e necessidades e, portanto, não receberemos o aviso de
forma clara e visível. Mas, tendo o real conhecimento do aluno e
estando atento às suas respostas de aprendizagem é possível identificar
os problemas que ocorrem no processo de ensino e aprendizagem.
Para
essa tomada de consciência é necessário questionar-se: Por que será que
o aluno não construiu o conhecimento quando eu utilizei este método
específico? Quais foram os processos mentais que ele utilizou para
chegar a determinada resposta? O que ele já sabe a respeito desse
conhecimento? O que ele ainda não sabe, mas está em vias de aprender?
Que outras estratégias educacionais eu posso utilizar para mediar a
construção desse conhecimento? Enfim, esses são apenas alguns dos
aspectos a serem examinados na prática em sala de recursos e que
possivelmente nortearão as modificações necessárias no planejamento,
buscando reajusta-lo de forma a atender às necessidades educacionais dos
alunos com deficiência mental
2 Aprendizagem Significativa
Conforme anteriormente referido, durante muito tempo, a
educação do aluno com deficiência mental foi direcionada pelo enfoque da
aprendizagem mecânica e pelo condicionamento. No entanto, conforme
Amaral (2002, p. 29) muitas foram às contribuições que possibilitaram
uma reformulação definitiva desses postulados, demonstrando que “entre o
estímulo e a resposta existe uma mente que interpreta,
elabora esse estímulo, antes de responder a ele; o processo não é tão simples, como parecia ou como se pensava ser”.
Dentre
esses postulados, destacamos a teoria da aprendizagem significativa,
desenvolvida por David Ausubel7, que se refere ao âmbito específico da
aprendizagem, a qual segundo Moreira (1999, p.11),
ocorre
quando uma nova informação „ancora-se‟ em conhecimentos especificamente
relevantes (subsunçores) pré-existentes na estrutura cognitiva. Ou seja,
novas idéias, novos conceitos, proposições podem ser apreendidos
significativamente (e retidos) na medida em que outras idéias,
conceitos, proposições relevantes e inclusivos estejam adequadamente
claros e disponíveis na estrutura cognitiva do indivíduo e funcionem,
dessa forma, como ponto de ancoragem para os primeiros.
Dessa
forma, entende-se que o aluno com deficiência mental aprende
significativamente quando estabelece conexões do novo conteúdo com
conceitos já conhecidos. Nesse processo de construção, não ocorre uma
simples associação, mas uma interação entre os conceitos pré-existentes e
a nova informação, os quais servem de ancoradouro para que o novo possa
adquirir significado para o sujeito. Assim sendo, as novas informações
são incorporadas e assimiladas, porém essa relação acaba por modificar
esses esquemas prévios, ocasionando uma transformação do conhecimento.
A
aprendizagem significativa considera, então, as experiências anteriores
e conhecimentos previamente elaborados pelo aluno. Conforme MEC (1999),
(...)
nem todos os alunos e alunas se apresentam com a mesma bagagem, da
mesma forma, no que se refere às aprendizagens já por eles efetivadas.
Todos os alunos e alunas têm capacidades, interesses, ritmos, motivações
e experiências diferentes, que mediatizam seu processo de aprendizagem,
fazendo que seja único e diferente, em cada caso.
Nesse
sentido, por mais que estudos acerca da deficiência mental, como os de
Inhelder, mostrem as oscilações e ritmos diferenciados no processo de
construção da inteligência desses alunos, cada sujeito pode apresentar
uma experiência de aprendizagem diferenciada, dependendo das suas
experiências e do contexto educativo no qual esteja inserido.
Conseqüentemente, não se justificam práticas centradas no nivelamento
cognitivo, centradas nas limitações decorrentes da
deficiência
mental. Devem sim, ser aproveitadas as potencialidades que esses alunos
dispõem, suas vivências, pois para que ocorra a aprendizagem
significativa, as estratégias de ensino precisam estar articuladas ao
interesse do aluno e ao que ele já sabe.
Bom! Imaginamos que
agora você pode estar se perguntando sobre o melhor método a ser
utilizado para favorecer a construção de uma aprendizagem realmente
significativa. Nesse sentido, com base em Morais (1999), faremos uma
breve interlocução entre estratégias metodológicas e os diferentes tipos
de aprendizagem:
Aprendizagem mecânica: ocorre quando os
novos conhecimentos são armazenados sem relação com os já existentes na
estrutura cognitiva. Isso não significa dizer que a aprendizagem
mecânica ocorre em um “vácuo cognitivo”, pois para constituir
aprendizagem alguma associação deve ocorrer, porém não no sentido de
interação e, portanto, pouco ou nada contribui para a construção ou
transformação do conhecimento.
Cabe ressaltar, que apesar
dessa diferenciação, em alguns momentos a aprendizagem mecânica é
oportuna, pois para Auzubel entre aprendizagem significativa e mecânica
se estabeleceria um continuum, o qual é explicitado na exemplificação
citada por Morais (1999, p. 14) “a simples memorização de fórmulas
situar-se-ia em um dos extremos desse continuum (o da aprendizagem
mecânica), enquanto a aprendizagem de relações entre conceitos poderia
estar no outro extremo (o da aprendizagem significativa)”. Portanto,
apesar de apresentarem contrapontos, a aprendizagem significativa e a
mecânica não são dicotômicas, podendo ser estabelecido um continuum na
aprendizagem de um novo conhecimento.
Aprendizagem por
descoberta ou por recepção? Certamente o método mais difundido em
educação está orientado para uma aprendizagem por recepção, sendo que “o
que deve ser aprendido é apresentado ao aprendiz em sua forma final”
(MORAIS, 1999, p.15). Essa situação educacional, muitas vezes, é
criticada pelos adeptos do método da descoberta, o qual concebe que “o
conteúdo principal a ser aprendido deve ser descoberto pelo aprendiz”
(MORAIS, 1999, p.15).
E você, qual dos dois métodos acredita
que pode contribuir para a aprendizagem significativa dos alunos com
deficiência mental? O da aprendizagem por descoberta ou o da
aprendizagem por recepção? A impressão do senso comum é que o método
instrucional corrobora para uma aprendizagem mecânica, enquanto o método
da descoberta contribui para uma aprendizagem significativa! Mas,
Auzubel, o que ele teria a nos dizer? Sua resposta, conforme Morais
(1999, p.15), é a de que “por recepção ou por descoberta, a aprendizagem
só será significativa (...) se o novo conteúdo incorporar-se, de forma
não arbitrária e não-literal, à estrutura cognitiva”. Dito em outras
palavras “tanto uma como a outra podem ser significativa ou mecânica,
dependendo da maneira como a nova informação é armazenada na estrutura
cognitiva” (op. cit, p.15).
Assim sendo, dependendo da forma
como for empregado, tanto o método instrucional, quanto o método da
descoberta podem ser ineficientes, porém o contrário também é
verdadeiro. Portanto, se tais métodos considerarem as vivências dos
alunos, os seus conhecimentos já consolidados, ambos poderão contribuir
para uma aprendizagem receptiva ou por descoberta verdadeiramente
significativa.
Antes de nos encaminharmos para o fechamento da
temática da aprendizagem significativa, é impreterível um novo
questionamento. Temos abordado a importância de considerar o construto
cognitivo do aluno, isso seria o mesmo que dizer que você deve organizar
a sua prática em sala de recursos, considerando apenas o nível de
desenvolvimento real do aluno com deficiência mental? A partir da
presente citação podemos fazer algumas inferências no sentido de
esclarecer a referida problemática
o aluno não constrói
significados a partir dos conteúdos de aprendizagem sozinho, mas, em uma
situação interativa, na qual os docentes têm um papel essencial, já que
qualquer coisa que façam ou deixem de fazer é determinante para que o
aluno aprenda ou não de forma significativa. (MEC, 2003, p.161)
Essa
contribuição, nos aproxima dos postulados teóricos de Vygostky, e
conforme o questionamento de Morais (1999, p.93) “teria sentido falar em
aprendizagem significativa em uma abordagem vygotskyana. Ao que me
parece, sim! E muito!”. Assim sendo, através do exposto pelo MEC (2003),
podemos identificar que o ensino deve agir na zona de desenvolvimento
proximal. Relembrando: zona de desenvolvimento real é estrutura
cognitiva já amadurecida, o que o aluno já sabe; enquanto a zona de
desenvolvimento proximal, se situa entre o que o aluno já consegue fazer
sozinho e o que é capaz de fazer e aprender, desde que se relacione com
o referido objeto do conhecimento de forma mediada.
Evoluindo a discussão: da aprendizagem significativa para/por meio da aprendizagem cooperativa
Ao
nos referirmos ao processo de mediação, não estamos nos limitando
exclusivamente a relação entre professor e aluno, como se somente o
professor fosse capaz de mediar essa construção do conhecimento.
Conforme Monereo & Gisbert (2005, p.11)
Ao afirmar que o/a
aluno/a constrói seu próprio conhecimento a partir de um processo
interativo, no qual o papel do/a professor/a é mediar o/a aluno/a e os
conteúdos, o construtivismo sugere a possibilidade de que, em
determinadas circunstâncias, os alunos possam ser protagonistas desse
papel mediador.
Respaldadas tanto nessa exposição, quanto no
entendimento da teoria sócio- cultural, a qual enfoca que o
desenvolvimento ocorre de um nível interpsicológico (social) para um
nível intrapsicológico (individual), consideramos que os alunos também
podem se constituir como agentes mediadores, atuando, na zona de
desenvolvimento proximal de seus colegas, favorecendo o entendimento de
que os alunos aprendem uns com os outros.
A partir dessa
compreensão, faz-se necessário a ressignificação de muitas práticas
adotadas em sala de recursos, as quais focam única e exclusivamente na
figura do professor a responsabilidade pelo processo de ensino. Um
recurso possível, nesse processo, é o enfoque na aprendizagem
cooperativa, a qual segundo Monereo & Gisbert (2005, p.11) “é uma
metodologia que transforma a heterogeneidade, isto é, as diferenças
entre os alunos – que logicamente encontramos em qualquer grupo – em um
elemento positivo que facilita o aprendizado”, complementando ainda, que
“a potencialização das interações entre os alunos, favorecida pelo
trabalho cooperativo, é um motor para a aprendizagem significativa” (op.
cit, p.12).
Esse pensamento corrobora para a superação da
tendência em educação de formar grupos homogêneos. Pode-se pensar, que
seria um delírio imaginar que esse critério de homogeneidade poderia ser
utilizado para a organização dos atendimentos em sala de recursos,
infelizmente não é! Mesmo se tratando de atendimento em pequenos grupos,
tem-se buscado constitui-los por alunos com níveis de desenvolvimento e
estilos de aprendizagem semelhantes, deixando assim de aproveitar a
riqueza das diferenças enquanto promotoras de situações de aprendizagem.
A
seguir, destacaremos algumas das interrogações clássicas sobre
aprendizagem cooperativa, descritas por Monereo & Gisbert (2005), as
quais se não esclarecidas podem contribuir para que o professor de sala
de recursos mantenha uma prática envolvendo situações educacionais que
estimulem apenas a aprendizagem individual e competitiva.
Se devemos preparar os alunos para um mundo competitivo, por que temos de basear nosso ensino na aprendizagem cooperativa?
É
realidade que o atual modelo econômico estimula a competitividade nos
diferentes segmentos sociais, no entanto, é preciso ter o entendimento
de que ser competitivo também significa trabalhar em equipe. Exemplo
disso, são as inúmeras equipes esportivas e profissionais bem sucedidas
devido a cooperação entre seus membros.
Se os alunos mais capacitados sempre têm de ajudar, será que eles não deixam de aprender?
É
importante salientar, neste momento, que essa suposta capacidade está
relacionada aos conteúdos, aos conhecimentos prévios e aos interesses
dos alunos, aspectos esses que dificultam o fato de apenas um aluno ser
“o mais capaz” em tudo. Outra argumentação favorável, é o fato de que
quando um aluno atua como mediador da aprendizagem de um colega ele tem a
oportunidade de dominar mais profundamente os conteúdos e de
desenvolver habilidades de liderança, auto-estima e resolução de
conflitos.
Não é mais efetivo e mais rápido explicar um conteúdo do que aprender através do trabalho cooperativo?
Por
mais que o professor de sala de recursos não trabalhe exatamente com
conteúdos programados, ele também se depara com momentos em que utiliza
métodos instrucionais, porém, o fato de explanar sobre um conhecimento
não garante que o aluno internalize-o, que o reconstrua. Assim, quando
possibilitamos ao aluno outras formas de interação com o conhecimento e
com outros agentes mediadores, ampliamos o leque para contemplar os
diferentes estilos de aprendizagem, oportunizado assim, diferentes
caminhos para que ele construa sua aprendizagem.
É
importante salientar que o delineamento da proposta de trabalho deve
ser definido em função dos objetivos que se propõe trabalhar e das
condições e necessidades dos alunos. Nesse sentido, ao propor dentre aos
métodos de ensino, aspectos que compreendam a aprendizagem cooperativa,
é necessário ter o entendimento que o simples fato de dispor as
crianças sentadas em grupo na sala de recursos não caracteriza um
trabalho de colaboração entre os alunos. Conforme Johnson, Johnson e
Holubec (apud Monereo & Gisbert, 2005, p.15) o professor deve
organizar um planejamento que favoreça as seguintes condições que podem
desencadear a cooperação no grupo,
1. Interdependência positiva (Positive interdependence).
O sucesso de cada membro está ligado ao do restante do grupo e
vice-versa. Isso é estipulado através de objetivos de grupo (aprender e
garantir que os outros membros do grupo também aprendam), reconhecimento
grupal (o reforço não é individual, mas de grupo), divisão de recursos
(distribuição da informação e limitação de materiais) e papéis
complementares.
2. Interações face a face (Face-to-face promotive interaction). Maximização das oportunidades de
interação,
permitindo dinâmicas interpessoais de ajuda, assistência, apoio,
animação e reforço entre os membros do grupo. Isso comporta limitar o
número de membros (em geral de 2 a 4).
3.Responsabilidade individual (Individual accountability). Tenta-se evitar o principal inconveniente do trabalho em grupo, a „difusão de responsabilidades‟. (...)
4. Habilidades sociais (Social-interpersonal-skills).
As habilidades necessárias para a cooperação (comunicação apropriada,
resolução construtiva de conflitos, participação, aceitação dos outros)
devem ser ensinadas para que possam ser praticadas.
5. Auto-reflexão de grupo (Group processing). Os
membros do grupo destinam certo tempo para refletir conjuntamente sobre o
processo de trabalho, em função dos objetivos e das relações de
trabalho, e tomam decisões de reajuste e melhoria.
O fato de
os alunos aprenderem com base em atividades cooperativas contribui para
que dependam menos do seu professor. Com isso, poderíamos dizer que essa
prática deixa o professor mais livre, sem precisar se preocupar tanto
com o processo? De forma alguma, pois o professor deve planejar,
supervisionar e avaliar constantemente o desenvolvimento das atividades
cooperativas, sendo que, as competências até mesmo aumentam, pois além
de identificar se as atividades consideram os conhecimentos prévios dos
alunos e se estão adequadas as suas necessidades e aptidões de
aprendizagem, deve ainda avaliar se os alunos compreenderam a proposta
do trabalho e o grupo apresenta as condições anteriormente citadas.
3. A utilização do computador como ferramenta de aprendizagem do aluno com deficiência mental
A utilização do computador na educação foi aqui inserida
para que você perceba que ele pode ser um importante aliado no seu fazer
pedagógico durante o desenvolvimento de atividades na sala de recursos
com os alunos que possuem deficiência mental. Nesse sentido, ressaltamos
que a referida ferramenta poderá ser empregada de forma
individualizada, como estratégia de intervenção isolada das outras
estratégias apresentadas à você nessa unidade, bem como poderá
constituir-se em uma ferramenta a mais durante o desenvolvimento de
atividades na perspectiva da aprendizagem cooperativa ou significativa.
- Como trabalhar com o computador na sala de recursos? Quais programas (softwares) podemos utilizar?
Assim como em toda prática pedagógica, independente do
recurso que estejamos utilizando, o que vai determinar a qualidade no
trabalho realizado será a abordagem teórica implícita ao mesmo. Logo, a
utilização do computador na educação pode apresentar funções bastante
diferenciadas, definidas de acordo com a concepção educacional que
embasa a atuação pedagógica do professor.
Podemos utilizar o
computador através de um viés mais mecânico, no qual o computador irá
transmitir as informações para o aluno. Os softwares nessa perspectiva
são sistemas nos quais o aluno interage diretamente com o computador.
Nessa concepção, o computador „ensina‟ ao aluno como ocorre nos métodos
tradicionais de ensino (SCHLÜNZEN, 2000).
Esses softwares não
deixam explícito o caminho percorrido pelo aluno para alcançar suas
respostas, por isso o professor precisa estar atento aos passos da
exploração do aluno para que possa descobrir o que ele está pensando,
sendo, então, capaz de questioná-lo e levá-lo a reflexões sobre o seu
fazer.
Encontramos no mercado uma gama variada de programas de
computador destinados ao uso educacional, considerados softwares
fechados. São construídos tendo como alicerce um conceito acabado de
conhecimento, e por isso apresentam o conteúdo que deve ser ensinado
conforme o pensamento de quem o criou e têm como objetivo instruir o
aluno sobre determinado assunto. Valente (1991) cita como
alguns
exemplos os jogos de exercício e prática que têm como objetivo o
desenvolvimento da memorização e da repetição de conteúdos, por isso são
usados basicamente para a revisão da matéria trabalhada em sala de aula
e os jogos educacionais, que se constituem como uma maneira divertida
de aprender, no entanto apresentam o risco de os aspectos competitivos
que os mesmos envolvem se sobressaírem aos aspectos pedagógicos da
utilização de tais programas.
Existe também, uma outra forma
de pensarmos o computador na Educação, na qual seu uso possibilita a
criação de ambientes de aprendizagem que priorizam a construção do
conhecimento. “Nessa concepção, o aluno exerce o papel de quem usa o
computador, também por meio de um software, para explicitar suas idéias,
ao invés de ser ensinado por ele, produzindo algo palpável” (SCHLÜNZEN,
2000, p. 76).
Sob esse viés o computador não é considerado o
detentor do conhecimento capaz de “ensinar” os conteúdos para o aluno,
mas, ao contrário, é concebido como uma ferramenta educacional utilizada
pelo aluno para a resolução de problemas. “Essa abordagem consiste em
criar situações que permitem ao aluno resolver problemas reais e
aprender com o uso e com a experiência, com os conceitos envolvidos no
problema que está sendo resolvido” (SCHLÜNZEN, 2000, p. 76).
Nessa
perspectiva, o desenvolvimento de atividades que primem pela resolução
de problemas constitui-se como uma das possibilidades de desenvolvimento
da autonomia dos alunos que possuem deficiência mental, bem como da
crença em suas capacidades. O processo é controlado pelo aluno, é ele
quem comanda o computador, ensina o que deve ser feito, usa o seu
conhecimento, “coloca-o” no computador para indicar as operações que ele
acredita serem necessárias para o alcance das respostas que deseja, e
assim sua aprendizagem está sendo construída.
Por isso, com a
utilização desses softwares o professor tem maiores possibilidades de
compreender o caminho mental percorrido pelo aluno, ajudando-o a
interpretar as respostas dadas pelo computador, questionando-o sobre as
mesmas e propondo-lhe desafios que o levarão à construção do
conhecimento. (MENEZES, 2006).
Inserido nessa situação, você
professor poderá observar como os alunos estão pensando e procedendo no
processo de construção de seu saber, e assim,
como já vimos,
por meio de questionamentos, desafios e reflexões sobre o que está sendo
produzido você poderá intervir na zona de desenvolvimento proximal do
aluno.
Para tanto, Almeida (apud MENEZES, 2006, p. 59)
ressalta que precisamos ter em mente que deveremos ser capazes de
incitar o aluno a:
– aprender a aprender;
– ter autonomia para selecionar as informações pertinentes à sua ação;
– refletir sobre uma situação-problema e escolher a alternativa adequada de atuação para resolvê-la;
– refletir sobre os resultados obtidos e depurar seus procedimentos, reformulando suas ações;
– buscar compreender os conceitos envolvidos ou levantar e testar hipóteses.
Veja
que, em se tratando da aprendizagem de alunos com deficiência mental,
estará esse professor atuando exatamente nas funções psicológica
superiores de seus alunos.
Nessa abordagem, dentre os
softwares existentes podemos indicar como exemplo o software HagaQuê,
que é um software livre, disponível para download no endereço eletrônico
http://www.nied.unicamp.br/~hagaque/. Desenvolvido por uma equipe de
pesquisadores da Unicamp a partir da estrutura das histórias em
quadrinhos – HQs. Conhecendo o caráter lúdico das mesmas, tais
pesquisadores acreditaram na capacidade implícita de auxílio que as HQs
podem trazer ao processo de ensino e aprendizagem na sala de aula.
Apresentado como um editor de histórias em quadrinhos com fins
pedagógicos, “o HagáQuê foi desenvolvido de modo a facilitar o processo
de criação de uma história em quadrinhos por uma criança ainda
inexperiente no uso do computador, mas com recursos suficientes para não
limitar sua imaginação” (http://www.nied.unicamp.br/~hagaque/, 2006).
Segundo informações disponíveis no site indicado, a
procura crescente do software por pessoas que possuem necessidades
especiais, fez com que o software fosse submetido a um processo de
redesign, momento em que se encontra atualmente.
Na utilização
do computador como ferramenta no processo de aprendizagem de alunos com
deficiência mental sob a perspectiva da construção do conhecimento além
da utilização de softwares pelo aluno ainda podemos trabalhar com
editores de texto, editores de imagem, e a Internet como fonte de
pesquisa, acesso à informação e comunicação para os alunos. Em se
tratando da Internet, você poderá encontrar ainda inúmeros sites com
jogos e programas disponíveis gratuitamente para download, no entanto,
caberá à você identificar dentre esses quais levarão seus alunos a
construírem conhecimentos.
Vimos que o desenvolvimento de
práticas pedagógicas no atual contexto educacional deve primar pela
realização de atividades desafiadoras, que instiguem nos alunos a
capacidade de criação, de descoberta e de construção de conhecimentos.
Nessa perspectiva, acreditamos no computador como uma ferramenta
potencializadora de sua prática no desenvolvimento de atividades que
possibilitem que os alunos com deficiência desenvolvam tais habilidades.
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vida: os computadores na sala de aula. São Paulo: Cortez, 2001.p.
29-42.
REFERÊNCIAS
1. Artigo
Título: A Teoria Cognitivista de Ausubel (CRUZ, Cristiano Cordeiro)
Descrição:
No artigo "A Teoria Cognitivista de Ausubel”, Cruz explicita alguns dos
aspectos mais relevantes da teoria ausubeliana. Para tanto o autor
inicia o mesmo apresentando o modelo cognitivo e de aprendizagem
proposto na teoria de Ausubel, trazendo também explicações acerca dos
principais componentes internos (ao indivíduo) e externos da
aprendizagem. Para concluir, Cruz aborda as propostas da teoria em
questão com relação à facilitação da aprendizagem no que concerne à
preparação dos diversos materiais envolvidos na atividade acadêmica e a
técnicas envolvidas na condução das aulas (expositivas).
Endereço na Internet: http://www.trendnet.com.br/users/hargento/cognitivismo.pdf
2. Endereço na Web.
Título: Psicologia da Educação
Descrição:
Site sobre Psicologia da Educação desenvolvido por Paulo Francisco
Slomp, professor da Faculdade de Educação da UFRGS, no qual há indicação
de endereços eletrônicos sugeridos como fonte de pesquisa sobre a
teoria de Jean Piaget e Lev S. Vygotsky.
Endereço na Internet: http://www.ufrgs.br/faced/slomp/
3. Filme
Título: Uma lição de amor
Descrição:
"Uma Lição de Amor" conta a história de Sam Dawson (SEAN PENN), um pai
com deficiência menta que cria sua filha Lucy (DAKOTA FANNING) ajudado
por um grupo de amigos. Ao completar sete anos de idade, Lucy começa a
ultrapassar seu pai intelectualmente, e a forte ligação existente entre
os dois é ameaçada quando uma assistente social decide que a menina deve
ir viver com uma família adotiva por acreditar que Sam não terá mais
condições de educar a menina. Diante de situação Sam decide enfrentar o
sistema legal e estabelece uma parceria com Rita Harrison (MICHELLE
PFEIFFER), uma poderosa e egocêntrica advogada que inicialmente aceita o
caso apenas por ter sido desafiada a fazê-lo por
seus
colegas. Juntos, eles se empenharão em provocar transformações nas
concepções sociais existentes a cerca dos sujeitos que possuem
deficiência mental, demonstrando que Sam pode ter sua filha de volta.
2001. Título Oiginal: I Am Sam; Gênero: Drama; Direção: Jessie Nelson;
Duração: 132 min.
4. Artigo
Título: Desenvolvimento e Aprendizagem: uma revisão segundo Ausuel, Piaget e Vygotsky (CARRARA, João Alfredo)
Descrição:
No artigo “Desenvolvimento e Aprendizagem: uma revisão segundo Ausuel,
Piaget e Vygotsky”,de autoria de João Alfredo Carrara apresenta-se uma
discussão sobre as contribuições das teorias de Ausubel, Piaget,
Vygotsky, para as práticas educacionais atuais. Nele, o autor procura
proporcionar que seus leitores ampliem sua compreensão sobre a
aprendizagem, a cognição e os processos de construção de conhecimentos
na sala de aula, e que reflitam sobre o papel do docente e do ensino nos
dias de hoje.
Endereço na Internet: http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=570
5. Livro
Título: Inclusão e Avaliação na Escola de alunos com necessidades educacionais especiais.
Descrição:
o livro “Inclusão e Avaliação na Escola de alunos com necessidades
educacionais especiais” de Hugo Otto Beyer discute a proposta da
educação inclusiva e a necessidade das escolas atenderem com qualidade
alunos em situações diferenciadas de aprendizagem. Reflete sobre a
importância da ação conjungada dos diferentes sujeitos que constituem o
espaço escolar ressaltando que as experiências positivas de educação
inclusiva em países desenvolvidos demonstram que esse é um fator
determinante no estabelecimento de uma escola para todos.
6. Endereço na Web
Título: Inclusão – Revista da Educação Especial.
Descrição:
publicação do Ministério da Educação, através da Secretaria da Educação
Especial, a revista apresenta artigos em educação inclusiva,
estruturando-se como uma fonte de pesquisa para os profissionais da
educação. Discute a educação especial sob o enfoque das práticas
inclusivas, procurando contribuir para as reflexões e transformações
conceituais e práticas no que tange a educação dos alunos que possuem
necessidades educacionais especial.
Endereço na Internet: http://portal.mec.gov.br/seesp/index.php?option=content&task=view&id=125&Itemid=277
7. Livro
Título: .TRAMAS: procedimentos para a aprendizagem cooperativa
Descrição:
o livro “TRAMAS: procedimentos para a aprendizagem cooperativa” de
Carles Monereo e David D. Gisbert apresenta a teoria da Abordagem
Cooperativa como imprescindível para o desenvolvimento de uma educação
de qualidade no século XXI. Estruturado a partir de narrativas breves,
os autores preocuparam-se em tornar a leitura mais atrativa ao leitor,
explicitando diferentes métodos de aprendizagem cooperativa, instigando a
reflexão do leitor na busca da compreensão das possibilidades práticas
de aplicação da teoria.
8. Livro
Título: .Educação Inclusiva: com os pingos nos is
Descrição:
no livro “Educação Inclusiva: com os pingos nos is” autora Rosita Edler
Carvalho defende a necessária reestrutração dos aspectos culturais,
políticos e escolares das sociedades que se pretendem inclusivas. Muito
mais do que destituir a educação especial do status de área educacional
paralela ao sistema comum de ensino, e pensando o processo de inclusão
para além da inserção física de alunos nas salas de aula regulares,
Rosita decide “colocar os pingos nos is” na proposta de educação
inclusiva, fazendo-nos refletir sobre o momento educacional e as
significativas transformações que temos presenciado nos espaços
escolares.
9. Capítulo de Livro
Título: .A
deficiência mental na perspectiva de Piaget e Vygotsky, in: Magalhães,
R. C. B. P (Org.). Reflexões sobre a diferença: uma introdução à
educação especial. Ed. UECE: Forataleza, 2003.
Descrição: no
texto “A deficiência mental na perspectiva de Piaget e Vygotsky”, as
autoras Maria de Lourdes C. Fernandes e Suzana da Costa Magalhães
resgatam as concepções teóricas que embasaram a atuação pedagógica com
alunos que possuem deficiência mental ao longo da história da educação
especial, discutindo com profundidade os benefícios apresentados pela as
teorias de Jen Piaget e Lev S. Vygotsky à educação desses alunos.
10. Livro
Título: .Aprendizagem Significativa
Descrição:
no livro “Aprendizagem Significativa” o autor Marco Moreira resgata o
significado original do conceito de aprendizagem significativa na teoria
de Auzubel, bem como as relações desse conceito interpretado à luz de
várias teorias. Ao longo do texto, explica o que é aprendizagem,
abordando a facilitação da aprendizagem significativa em sala de aula e
sua avaliação.
CAIXAS DE ANTECIPAÇÃO
As caixas de Antecipação ou Sistema de Calendários são materiais que
proporcionam o desenvolvimento da Linguagem e a Construção de Rotinas de
Aprendizagem, atendendo às Necessidades Educacionais Especiais dos
alunos com quadro de TEA( Transtornos do Espectro Autista), como também
aos alunos com Deficiência Múltipla.
Iniciamos o trabalho pedagógico com a Caixa de Antecipação, separando
caixas de tamanho médio de papelão. Eu utilizo as caixas de papelão dos
materiais e uniformes dos alunos, que são descartadas após a entrega dos
mesmos. Costumamos encapá-las com papel espelho ou camurça preto, pois o
fundo preto auxilia problemas de contraste visual. É importante que
cada aluno ou aluna participe da ilustração de sua caixa de antecipação,
pois cada caixa é pessoal e intransferível, portanto torna-se
imprescindível que os alunos saibam localizar sua caixa. Todos os dias,
antes de iniciar o Atendimento Educacional, ou mesmo a aula na Sala
Regular, pegamos a caixa do aluno ou aluna, que deverá estar com
objetos reais que representem cada atividade a ser realizada naquele
dia. Chamamos de objetos reais, todos aqueles que fazem parte da
atividade a ser realizada. Um bom exemplo, são as sequências de
atividades de vida diária: a escova de dentes do aluno, ficará dentro da
caixa, para sinalizar a realização dessa atividade. O mesmo pode ser
feito em outros contextos: escrita, leitura, música, recorte, colagem,
etc. O trabalho com objetos reais é o primeiro passo para o
desenvolvimento da linguagem receptiva e expressiva com alunos que não
desenvolveram qualquer tipo de comunicação , pois familiariza esse aluno
com a rotina escolar, diminuindo a ansiedade natural frente ao novo,
estabelecendo aos poucos um vinculo afetivo e funcional no processo de
ensino e aprendizagem.
As caixas de antecipação devem ser utilizadas antes dos programas de
comunicação alternativa com figuras, pois é necessário que o aluno
atribua sentido à imagem ( semi abstração), o que por sua vez só
acontece , na construção da familiarização com objetos concretos e a
conservação da função antecipatória das mensagens representadas por
cada um dos objetos trabalhados com o aluno.
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